segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Esse Emaranhado Inominável de Sentires Vulgarmente Chamado Amor

"A coisa nenhuma deveria ser dado um nome,
pois há perigo de que esse nome a transforme."

Virgínia Woolf


Eu não saberia responder essa pergunta, entenda; talvez por isso me seja indiferente admiti-la no espaço insinuado entre os balbucios das palavras que não digo e os batimentos do meu coração – e tampouco me desconcerta vê-la me entreolhar nesses soslaios densos, nesses instantes que escapam à intuição na insistência de serem racionais. Porque igualmente me falta a capacidade de nomear aquilo cujo sentido está justamente na definição não havida, embora tão compreensível... e porque gosto, porque simplesmente gosto de renegar a força da palavra, e gosto de me ater à força dos sentires.

Por isso não afirmo que seja isto nem aquilo. E deixo que tal pergunta impertinente se cale quando minha alma se aprofunda numa paz recôndita e quente, uma paz rósea como róseo é cada cálice de pele e boca e olhos onde se bebe e se come dessa coisa doce e sagrada cujo sentido verbo algum alcança, onde se embebem os sonhos e se escondem os medos porque é depositária de todas as confianças e também de todas as desconfianças, é nas veias da minha alma assim enternecida que corre essa felicidade sanguínea e organicamente incorporada... E deixo que a resposta se dilua na confluência das imperfeições que fazem dessa coisa sagrada e doce tão extraordinariamente perfeita, e que se esvaia obediente, quase súplice, para a parte de mim que é imune ao visgo das conjecturas – onde eu não posso negá-la nem desentendê-la – e que aí se desfaça e me desfaça, e me restabeleça consigo, com sua significância tamanha e despalavrada. Eu deixo e é assim que a compreendo, e só.

Então o que é, eu não sei. Sei apenas que é, prescindindo de maiores razões para sê-lo. E aceito que apenas seja e que se revele a mim inexplicada e sem alegorias, e flua... e nessa ciência viro muitos sentidos, um coração acelerado e nenhuma boca – deixo a voz nua de qualquer palavra que possa profanar essa existência pura e deliciosamente invasiva, essa liberdade, esse cárcere, esse emaranhado inominável e misterioso de sentires vulgarmente chamado amor.

50 comentários:

Taynar disse...

E coube a mim a hercúlea tarefa de comentar humildemente essa magnífico texto.
Tão magnífico que qualquer palavra seria tola pra descrevê-lo.
Como diria o poeta:
'E você tem que vir comigo em meu caminho, mas talvez o meu caminho, seja triste pra você'
O amor é isso, e ao mesmo tempo não o é. São sentimentos, sentidos, ações, e ao mesmo tempo, às vezes, se basta e cresce sozinho. Indomável e imutável. Confundindo e transmutando. Ficando forte e se embolando, tropeçando, se atropelando, sem regras, nem juiz.
Quando a gente vê, já foi, e não tem mais jeito.
'Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho'

Se o texto tocou à mim, incauta leitora, que dirá a quem lhe é de direito.... ;)

Beijos, moça

Edna Federico disse...

Flavinha...volto pra ler depois, tô meio lenta hoje, riso.
Beijo

Chantinon disse...

O mais desconcertante é tentar ser cético, e achar que pode descrever tudo isso como uma composição química. Só os poetas para descreverem isso mesmo.

bjs

Keila Costa disse...

Como é frágil e incompleto o nomear...
Beijo

Anônimo disse...

E o que nomeamos? Essa imagem no espelho, esse vai e vem sem razão...
Por vezes as palavras se juntam, se abraçam, se contorcem e em um impulso puro nasce, limitando um desejo, uma idéia, um mundo...
Não, deixemos vagar o vazio, as palavras e letras, desejos e olhares, no fim, se só o silêncio reinar, saberemos que a alma bebeu das palavras...

Tão ousado descrever em palavras um olhar... Um cinza pintado no céu...

Doce texto o teu, marcou bem o começo da minha semana...

Doce semana e bons ventos para tu

:*

Mari disse...

Oi,linda
Virginia Woolf tem razão.É muito perigoso nomear,conceituar...principalemnte sentimentos...o nome pode transformá-lo em algo diferente.
O amor então!Ah..o amor não devia se chamar amor....Então como seria??

beijos

Rosa Canela disse...

Ai Flavia ...nem preciso dizer que sou fã da forma como escreve ...
O post de hoje é lindoo ...e como é complexo e simples este "AMOR"...quero de verdade me perder neste emaranhado...

e simplesmente fazer dele o meu motivo de felicidade ...

Beijos

ótima semana pra ti

Rosa

Anônimo disse...

Amiga-metade,
eu aprendi a reservar-me o direito de sentir, apenas.
penso assim como você... exatamente!

talvez seja por isso que Macondo é o meu lugar dos sonhos: é a cidade de Cem Anos, onde as coisas ainda não receberam nome.

meu beijo!

Sunflower disse...

"Falar sobre amor é como dançar para explicar arquitetura".

Angelina Jolie falou isso em um filme, esqueci do nome do filme, mas como esquecer essa frase?


Beijas

Felipe Lima disse...

Às vezes o troço é tão forte que nem nome se dá. É uma agonia, um querer maior que o tempo e o espaço. Isso é chato. E doloroso.

Taynar disse...

Acho que algum encosto preguiçoso inativo mentalmente se apossou de mim.
É verdade, melhor estar Garfield, do que ser Garfield.
Afinal, eu gosto de pensar.

E tu, moça, como estás?
Beijos

KImdaMagna disse...

...pois há perigo de que esse nome a Transforme...
a Vírgínia sintetizou bem.

Pode se então dizer que a palavra ( correndo o risco da transformação) foi um amor que lhe deu?
E o Silêncio é a paixão?
É, no princípio era o Verbo...


xaxuaxo

Anônimo disse...

Você fala de um sentimento que é quase palpável. E que maneira bonita de escrever!

Parabéns!

beijos.

Sargento Peixoto - O Monge disse...

Incrível como nomes vulgarizam tudo, hoje em dia as pessoas dizem que amam tudo e esquecem o que amar realmente significa.

Quanto a segunda-feira, eu a odeio, meu blog é feito quase predominantemente as segundas, dias infernais nos quais Murphy vêm a terra, mas depois a tendência é melhorar. Ou não...

Taynar disse...

hahahahahah
Conheceu o Sargento?
Ele é macho alpha e tem TOC de limpeza!
Tudo que eu pedi à Deus
ahahahhaha
Beijos

Taynar disse...

Tá vendo porque eu digo que vou casar com ele?
Ele, inclusive, aprendeu a fazer torta Maria Izabel, porque é a minha favorita!

Beijos

Blogueira Master disse...

É, pra que nominar não é mesmo? Belo texto! Beijos
ps: o tombo na escadaria da faculdade foi foda... rs

Anônimo disse...

Dessa forma que você escreveu, dá até pra pensar que o amor está bem ali... Bjus e belo texto!

http://so-pensando.blogspot.com

Anônimo disse...

Dessa forma que você escreveu, dá até pra pensar que o amor está bem ali... Bjus e belo texto!

http://so-pensando.blogspot.com

Tania Capel disse...

oi, flávia...

lindo blog e lindo texto!
e pra que nomear, né?! sentir infinitamente, deveria ser o lema... ah! esta primavera que me vem despertar tantas emoções...

bom te conhecer!
beijos mil

Cara de 30 disse...

Amor, amor, amor... Sempre ele pra causar um nó em nossas emoções, sentimentos, pensamentos, corpos, almas... Sempre ele.

É bem verdade que cada um se enrosca, se confunde e se "acerta" de uma forma que só o próprio consegue entender (será?). Mas se isso tudo tivesse fórmula, como os elementos e compostos químicos, não teria a menor graça amar. Concorda?

Parabéns, uma vez mais, pelo excelente texto e pela visita no meu humilde espaço.

P.S.: Estou te linkando por lá, ok?

Alexandre disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alexandre disse...

Olá moça, obrigado pelos parabéns. Realmente, esse "joguinho" dos dardos é uma maneira bem legal de amarrar a "teia" blogueira. Eu gostei.

No mais, gostei em especial de dois detalhes: o "cancerianismo" e o gosto pelo café.

:)

Unknown disse...

façamos uma visita àquela suja loja de velharias do coração. aquela mesmo, ali da esquina.

Jaqueline Lima disse...

e porque algumas coisas não se pode explicar. mas sentir. talvez se lambusar. assim é o amor. uma coisa que não diminui de um aniversário para o outro. um exagero. um desvaneio. uma avalanche. sei não. só sei que amar é uma entrega contínua. e não tão tênue. é uma aprendizagem compartilhada. são palavras trocadas. portas abertas. depois fechadas.

Beijo!
Sempre um grande prazer passar por aqui.

Robson Schneider disse...

Seu texto me remeteu imediatamente a uma canção de Pixinguinha e Otávio de Souza, "Rosa".
Ele parece que não foi escrito nesse tempo de hoje... soa visceral
sem doer...muito.
Bj

Anônimo disse...

E a gente adora estragar tudo tentando explicar porque "eu te amo"...

Anônimo disse...

Depois de um longo tempo afastado dos blogs volto agora e pela primeira vez te visito... belos textos encontrei aqui e voltarei mais vezes...

Anônimo disse...

Mais uma vez... PERFEITO!
Vc faz falta Flavinha...
beijos!

Tiago Soarez disse...

Flavia,

Também acho muito estranho nomearmos algo tão indefinível.

Mas independente de palavras, o q vale é o sentimento quando ele é sincero.

Portanto, amo. E amo muito. E vc sabe quem! rs.

Beijos.

Poetas podem ser doidos...

Mas são ótimos!

Bossa Nova Café - textos, música e arte!

Anônimo disse...

Sabe que eu tbm não entendo. Minha cabeça tá um turbilhão de sentimentos, to muito inseguro e tudo o mais. Quem me dera saber escrever que nem você... um dia tu me ensina?=p

beejO!

Anônimo disse...

E mais pra ser sentindo. Piro de explicações e sem buscar nenhuma dor.
Lindo.

C. disse...

ei, pô. que lindo!

Mariana disse...

Não sei exatamente como descreve-lo, mas sei senti-lo...


gostei,...

beijoca

Filipe Garcia disse...

Oi Flavinha,

admirável sua sensibilidade, sua escrita cheia de candura. Concordo que amor é uma palavra indescritível e, assim como a Virgínia Woolf, o nome só tende a transformar a pureza do sentimento. Mas você, engasgada e aflita, insiste em expressar toda essa emoção que sai em versos. E, dessa forma, você prova que, apesar das dificuldades, é possível falar sobre o amor. É que não importam as palavras, mas o tom,a poesia que se carrega no peito.

Beijo

Taynar disse...

Huuuum!!!

Guarda um pedaço pra mim!!!
E parabéns pra mamãe da Flávia!

Beijos

Flávia disse...

TAYNAR, pode deixar que guardo, sim! E valeu pelos parabéns, boas comemorações por aí também!

Pra todo mundo ficar por dentro do comentário da Taynar: hoje é aniversário da minha mamis e tem overdoses de torta de chocolate aqui em casa. Servidos? :)

E amanhã é a mamis da Taynar quem faz aniversário. Pra passar lá e dar os parabéns, é só seguir a fotinha da moça bonita aí em cima.

Beijos!

Taynar disse...

Pode deixar.
Vou guardar.

Ja comestes esses cremes de cupuaçu com chocolate? huuuuuuuuuuuuum!!!!

Beijos

Taynar disse...

Ahhhh, eu também!
E olha que meu almoço hoje foi miojo!
hahahahaha

Bora combinar uma ida na abelhuda?

Beijos

D.J. Dicks disse...

Bem, eu já te disse uma vez que falo muito, para n~]ao dar espaço as pessoas perguntarem coisas que vão me deixar emcabulado....hehehhe
maldita timidez, mas acredite prefiro ficar calado, mudinho ao lado de alguem que eu saiba que não vai ficar fazendo perguntas, deixa o som do silencio entre nós, é a maior cumplicidade. Imagine compartilhar uma tarde inteira ouvindo o silencio e as repiraçoes, vendo o vento passar ew sair voando em pensamentos ( Que Bobo,non?)

Taynar disse...

Bom, como é dia de semana e a Dona Alda tem o tempo corrido, vamos só sair pra almoçar. Mas isso quer dizer SUSHI!!!! E muito me agrada!!!

vou entrar sim, ai a gente combina direito!

Beijos

Ingrith disse...

Flavinha GYN é Goiania

J. disse...

Flah, c tem palavras para escrever o idescritível, conceituar o inconceituável e convencer que, assim como Virgínia Wolf, o nome pode transformar a coisa que recebe o nome, afinal seu feeling pra falar de amor abraça a complexidade do que parece ser tão simples de ser vivido, quiçá dito. Bjos!

Caroline disse...

Conhece sim, da nossa última reencarnação!! :P

Brincadeirinha... rsrs

É que o meu antigo blog era o "Menina Lunar", não sei se vc lembra.. Eu até já tinha te add aqui nos favoritos!

Sensacional vc me achar assim por acaso.

Beijo enorme!!

samantha jones disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
samantha jones disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
iaiá disse...

flá,

mania da gente de botar tudo numa caixinha e etiquetar, né?
maseu gostarai de saber sentir mais e pensar menos...
bjs

Nadezhda disse...

Nosso hábito de nomear todas as coisas...

;)

Menina da Imprensa disse...

Ô Florzinha... Se esse teu "emaranhado inominável de sentires é vulgarmente chamado de amor", de que será que eu chamo o emaranhado de adjetivos para as tuas poesias??? É poetisa, definitivamente meu vocabulário é pobre, porque teu talento vai além do conceito de fantástico...
Kisses

Tyr Quentalë disse...

Sem palavras, pois não consigo encontrá-las depois desse texto.
Bravo! Bravo!
É o clichê que usar nesse devido momemento.