sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Sacramento

Essa revolta auto-explicativa é uma total perda de tempo. Desde que rompi comigo mesma para pactuar com meu coração virado em entidade de olhos deslizantes como pigmentos foscos zunindo desimportâncias feito libélula, desde que me acostumei com meu corpo boiando na superfície de meu conflito mais bem cultivado. Nenhuma dívida, nenhum segredo. E eu sinto a vontade de escapar de mim e arder nas minhas pernas e braços, e escapo de mim e retorno e escapo e retorno e escapo e retorno e me pergunto: para quê?, sempre fui uma péssima fugitiva. Sempre fui péssima em tantas coisas. Péssima e desgarrada. Noite dessas, juro, senti um gosto de palavra queimada na água, engoli e desceu áspera, meio coisa pagã inocente de delito. Engoli, perdi o sono. E encontrei essa escolha fatal num dos bolsos da camisa que me escondia a nudez e as vontades, essa escolha de continuar não me pertencendo e sendo qualquer coisa vária e meio inventada e desconhecedora de escapatórias. Escolhi, não há retorno: então não há razão para medo de escuro. E, ainda que houvesse, cansei de me esconder.

5 comentários:

Anne disse...

Bom demais ver vc devolta, ainda mais agora que não se esconde mais. Sem vc, falta! E vamos enfrentar de peito aberto seja o q for, já que se esconder não faz nada sumir...

Aliás, lindas palavras, lindo demais o seu menino. Dia desse combinamos e vou aí ver de pertinho! É só chamar, eu vou! Amo vc.

Bjosssss

M.M. disse...

Flávia,
Que bom ver sua volta! Muito, muito bom!
Tô na fase dos "pra quês". Esconder só nos leva à exposição frágil.
Quero sombras no escuro, mundos que eu possa chamar de "nosso" com alguém. Segredos, não porque eu tenha algo a esconder, mas porque não é da conta de ninguém. Quero a especialidade de não me esconder de mim e de quem me sabe. Quero cúmplice[s?] para minha não fuga, pro meu castigo sem delito...

Um beijo.

MeninaMisteriosa

p.s.: minha mãe diz que, por vezes, sente gosto de gente na boca. imagino que seja esse gosto amargo, ruim, de coisa queimada, guardada. olha o naipe da família, eu não seria normal.

Talita Prates disse...

saudade da força da tua palavra, ainda que queimada.

da tua fã,

Talita
História da minha alma

Anônimo disse...

texto fofinho!

Celine Ramos disse...

Saudade de vim aqui te ler. Lindo como sempre. Tão seu e tão verdadeiro que passa a ser nosso.