sábado, 28 de janeiro de 2012

Sobre um dia sem nome.

"Eu me lembro que um dia acordei de manhã 
e havia uma sensação de possibilidade."

Virginia Woolf


Deixo o corpo cair no sofá, olho em frente, o dia de ontem pendurado na parede parece mesmo meio torto. Um gole de água, outro de paciência minimamente invasiva com cara de poucos amigos. Há tanta coisa para arrumar que nem sei se começo por mim ou se pela palavra que caiu da minha boca e ficou assim toda riscada, sempre deixo as coisas pela metade; saí jogando tudo fora, inclusive aquele velho pedido de desculpas que não fiz e ficou se repetindo pela sala, arranhando no toca-discos. Ao contrário do que se possa supor, não sirvo em roupa bonita, linha reta ou confissão. E se guardar segredos de fato poupasse o mundo de alguma verdade terrível, quem sabe valesse a pena manter o silêncio quando até os vincos da nossa pele reclamam amor e nos pedem asilo. Não foi o vento, mas um pedaço de egoísmo quem trincou os vidros das janelas – e vou deixar assim pois desisti de tentar consertar toda e qualquer falha que não seja minha, e não nego que pelas minhas próprias chego a ter desvelo de mãe. Vou desalinhar um pouco mais o passado na parede. Não estou aqui para ser perdoada.